segunda-feira, 21 de setembro de 2009

UM MERGULHO SEM DOR, POR UM SUPREMO AMOR.

Cravei as unhas onde pude. Tentava de qualquer maneira não cair. Prendia-me às paredes do poço. Tentando prender a minha própria vida, em meu corpo, mantê-la intacta. Com os pés, buscava sulcos nas paredes, locais de apoio. A lua já subira aos céus e o raio solar da esperança retirara-se de meu destino. Horas sem água, somadas a um enorme esforço físico, causavam-me delírio. Sobre a água escura, há nove metros abaixo de mim, enxergava imagens de pessoas. Corpos brancos apodrecidos, com as mãos para o alto, suplicavam por ajuda, suplicavam por companhia. Sem ter para onde fugir, a não ser ficar imóvel, observando, ou enfrentá-los no fundo desse pesadelo escuro. Eu escorregava, pouco a pouco perdendo as forças.

Infelizmente salvar meu irmão foi um impulso. Ainda podia ouvir sua voz, acima do poço, gritando por socorro. Ele havia se pendurado na corda por brincadeira, e um grito foi o que conseguiu ao vê-la arrebentar. Após agarrar seu pé, sumindo na beirada, só consegui puxá-lo para fora caindo dentro do poço. Lançando meu corpo em derradeira prisão infernal.

Escorregara pelas bordas, sentindo o ar fugir de meus pulmões, a altura fazia com que minha cabeça girasse. Com o reflexo de agarrar-me a qualquer objeto palpável, esgotei o resto de forças que tinha. Não havia possibilidade de saída. Apenas uma possibilidade cinzenta. O fundo inexplorado daquele poço. Temível poço que a cada segundo se tornava mais sombrio.

Nada mais importava, meu irmão estava a salvo. Poderia continuar sorrindo, crescendo, vivendo. Estaríamos para sempre ligados. Eu nunca poderia esquecer sua gargalhada infantil. Estaria sempre a olhá-lo. Por ele faria isso mil vezes.

Minhas mãos se soltaram, Ah! Alívio divino. Meus pés voltaram a seu estado normal, livraram-se das pedras frias. Meus músculos tensos, enfim relaxaram. Por segundos, vivi toda uma vida. Diante de meus olhos, minhas lembranças; não podia ver as pedras se movendo rapidamente no sentido contrário a minha queda. O cheiro da comida de mamãe, misturando-se a orvalho. Podia ouvir um grito ao longe, que se tornava cada vez mais inaudível. Sumindo e se perdendo, em um mundo que eu não fazia mais parte.