terça-feira, 2 de março de 2010

Saudades

Tudo o que eu escuto é o mar. As ruas e prédios parecem vazios. As folhas dançam seu movimento ritmado enquanto os pássaros se esqueceram de seus sons. O mundo parece calmo, nem parece mundo. Noite serena que se arrasta sem fim. Ondas vêm ao meu encontro e se desfazem logo antes de chegar a terra. Decidiram que não irão me levar.

Quantas perguntas rondando o silêncio. Eu posso sentir a tristeza pulsando em minhas veias, exercendo uma pressão claustrofóbica sobre meu peito. Uma montanha me soterrou em algum momento imperceptível, não há como encher os pulmões de ar. Apesar da imensidão do oceano a minha frente; sinto-me apertado.

Quero deitar, mas não consigo dormir. Tento encontrar uma distração. Não consigo. Eu só quero ser encontrado. Porque me tomaram o sono? Não é justo que me tomem as ilusões de casa noite, o escape de algumas horas. Poderia dormir. Simplesmente dormir. Uma terapia sem erro: dormindo a dor acabaria indo.

Não vejo brilho onde deveria haver. Sorrir é algo impossível, nem com toda a força que possuo. Quero chorar, mas o choro já não vem. As lágrimas secaram em algum lugar em que se perdem meus pensamentos. O sofrimento deveria ser depositado em uma caixa, como um segredo, trancado e jogado no fundo do mar.

Estou cansado. Cansaço em cada parte do existir. Cada momento mais fundo em um buraco que não foi cavado por mim. Sou capaz de vencê-lo? Força ou motivação? Embora seja uma cratera cujo fim não possa vislumbrar, assim como a própria noite; sinto que este buraco vai se fechando ao meu redor. Preciso sair daqui, ou esta imensidão vazia será minha cova.

Tudo o que escuto é sua voz. As risadas e as exclamações. Sem exceção alguma, todos os pedacinhos de mundo cantam seu nome, mostram sua imagem. Será que meus olhos estão fechados? Não consigo ver nada. Aonde quer que eu olhe, a imagem que enxergo é ela. Sua presença é a única capaz de me resgatar.

Como dedos cegos tocando tudo o que podem alcançar, as gotas caem. Não se importam se é morto ou vivo, apenas caem. Lambem e todos como uma deliciosa refeição, nunca satisfazem a gula. Acertam cada ponto de seu corpo, nunca se esquecem de nenhum canto. A mesma água que mata a sede é aquela que desce dos céus para matar-lhe afogado.

Tento sugar o ar. Com toda a destreza possível tento preencher meus pulmões. Percebo que nunca consigo. Não importa o quanto tente, não importa a qualidade do ar ou a hora do dia; é impossível preencher meu peito. Apesar de não haver fugido ou lutado, estou ofegante. As forças faltam e os olhos fecham. Não tenho fome. Não consigo respirar. Andar não possui sentido algum, pois não chego a lugar nenhum.

Tento falar, mas as palavras me fogem. Escorregam na forma de murmúrios e barulhos. Algumas se prendem à minha garganta. Outras somem levadas a algum lugar desconhecido. Palavras que martelam meu cérebro e me roubam a concentração; lembram-me o vazio de dentro. Tento jogá-las em um papel e não há sentido. Continuo boiando na solidão, perdido.

Talvez seja o relógio. Esqueceram de dar-lhe corda. Provavelmente está com algum defeito. O senhor do tempo tirou um cochilo demorado e se esqueceu de suas funções. Deve ser alguma engrenagem fora de lugar. A empresa vai mandar alguém para concertar, talvez mais alguns dias e tudo esteja resolvido. E ainda houve quem disse que o tempo não pára! De certo este um já repousa abaixo da terra.