segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A mulher que passa - Inspirado no poema de Vinicius de Moraes


Meu Deus, eu quero a mulher que passa.  Quero a mulher que passa com todo o calor do meu corpo. Oh! Como eu quero a mulher que passa! Quero como quero o ar em meus pulmões. Quero como quero o sangue em minhas veias! Quero mais do que quero estar vivo!

Seu dorso frio é um campo de lírios, mais frio ainda é seu interior. E sua frieza é um campo de rosas. Oh mulher que passa! A mais delicada rosa, do vermelho vivo mais morto. Rosa das pétalas de gelo e os espinhos de fogo. Suas palavras são a tempestade gelada e seu toque é o incêndio que engole tudo.

Tem sete cores nos seus cabelos e uma cor nos seus olhos. Do Sol e da Lua, da luz e das flores, do ouro e o louro, são as seis cores que juntas podem encher mundos inteiros, mas não são tão belas quanto a sétima cor dos seus cabelos. Nos seus olhos somente o azul absoluto, o profundo azul do céu e do horizonte. Minhas sete esperanças na sua boca fresca! E uma só cor no silêncio, na sua passagem. No silêncio da mulher que passa.

Oh! Como és linda, mulher que passas.  Que me atrais, mas não sacias, dentro das noites, dentro dos dias! Teus sorrisos são poesia, teus sofrimentos, melancolia. Mulher que passas, meu vício, minha agonia. Tenho meu corpo colado no teu, mas não tenho a ti, e eu sou seu. Teria sido minha imaginação? Talvez essas lembranças não passem de mais uma ilusão. Teria sido minha impressão? Aquele dia não me lembro de ouvir o bater do teu coração. Não estou certo da verdade e nem da mentira, e nada digo a nenhum amigo. Revivo em minha mente todos os dias o meu dia que vivi contigo.

Oh! Como quero a mulher que passa! Que não ficas, mas só passa. Que é tanto pura como devassa. E tem raízes como a fumaça. Voa e voa com o vento, some rápido e aos poucos. Como és fresca e macia, mulher que passas. Entre nós dois existe uma estranha sintonia, nossos corpos se entendem sem nada dizer, na particular conversa das palavras não ditas. Tua pele é branca, teus belos braços são cisnes mansos longe das vozes da ventania.  Teus braços que passas por mim enquanto passo meus braços por ti, no meu apertado abraço na mulher que passa. Mas de nada adiantam os braços meus, na mulher que passa mais não vive, braços que tentam segurar a mulher que nunca tive.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa! Como te adoro, mulher que passa. Que vens e passas, passas nas noites, passas nos dias!  Triste homem sou, que te perco se me encontras e me encontras se te perco. Mulher que passa, por que me queres quando desapareço? Por que me lembras quando te esqueço? Diante de teu passar, que posso eu fazer? Que posso eu fazer diante da mulher que passa, entre todas a mais bela? Se luto por sua atenção, quando desde o primeiro beijo sempre fui dela?

Oh! Mulher que passa! Por que tens o sentimento tão torto? Para ti não há diferença se estou vivo ou se estou morto.  Por que me faltas, se te procuro? Por que me odeias quando te juro?  Por que mentes se meu sentimento é puro?  Por que somes quando vou ao teu encontro? Por que me evitas se chamo teu nome? Por que me despreza se te idolatro? Por que me matas se é por ti que vivo? Por que não voltas, mulher que passa?  Por que não enches a minha vida?  Por que não voltas, mulher querida, sempre perdida, nunca encontrada? Sempre perdida, nunca alcançada. Sempre perdida. Em silêncio a mulher que passa.