Sendo
esquecido
Estou
sendo esquecido. Posso sentir. Sinto o vazio no peito, a sensação de sumir. Não
sei ao certo o motivo, talvez seja inevitável ao mesmo tempo em que é
inexplicável. Mas eu sei, sem dúvida alguma eu sei, eu vou desaparecendo.
Já
não sinto o calor e o conforto de ser lembrado. A certeza afirmativa do
pensamento. A satisfação de ser considerado um amigo, a disposição que fluía
como sangue. Nada disso restou. Hoje vou desvanecendo. Vou desfazendo,
desfalando, desamando, desconhecendo, descrecendo, desnascendo, desexistindo.
Nada
resta das conquistas de outros tempos. Nada permanece dos outros tempos. Vou
sendo esquecido. A vida ao meu redor segue vivendo. Eu estou sumindo.
Fugiu
ao meu controle. Os rumos invisíveis e as causas desconhecidas exerceram seu
poder superior. Não foi um momento, ou um ponto de mudança, aos poucos fui
deixando de ser. Hoje há somente o nada.
Sumo,
pois os sentimentos que me mantinham existindo se foram. Ainda resto em partes
devido ao eco, repetição longínqua e distante de um antigo grito de vida.
Essa
é a verdadeira morte. Não quando paramos de respirar... mas quando deixamos de
existir. Quando o que fomos, fizemos, falamos, deixa de existir. Quando ninguém
se lembra de nós. Quando aos poucos esquecem o som de nossa voz. Esquecem nosso
rosto. Esquecem nosso nome. E então, morremos.
Lá
se vai quem eu era, vou ventando, vou sumindo, vou indo nos ventos dos
terminados, dos perdidos. Chove muito, a chuva bate na pedra. A chuva bate na
madeira, na minha madeira fechada. Não há ninguém aqui, só a chuva, mais
ninguém. Nem eu. Tudo se vai, nada resta na lembrança. Nem de velho, nem de
adulto, e nem ao menos da criança.
Da..
Vic...