Eu estou viciado em você. Meu corpo sente sua ausência. Eu preciso de uma
dose. Eu não aguento isso. Só mais uma dose. Eu prometo que eu posso lidar com
isso. Eu preciso disso. Eu vou aguentar, acabe com isso. Só mais uma vez.
Depois, é isso. Só um pouco mais para eu superar você. Só mais uma dose, em uma
quantidade segura. Não, eu não posso... Não há dose segura.
Você é minha droga. Um eterno eco em minha cabeça. O nome repetido que
vibra nas paredes de mim. Uma eterna necessidade. O querer incessante me queimando por dentro. Sua
falta é como um demônio, um peso que eu não consigo carregar e a voz que nunca
para de sussurrar ao meu ouvido. Sua falta é uma presença que sinto constante.
Quando não te tenho, torna-se presente dentro da minha cabeça. Você está aqui. Eu
estou preso em uma cela com seu cheiro. Estou enterrado em uma caixa com sua
voz. Estou no infinito do espaço com seu toque. Eu fujo em minha mente da sua
imagem, de você, da minha necessidade. Mas você está aqui. O tempo inteiro sua
ausência é minha abstinência. Minhas mãos tremem. São os
sintomas físicos. Procuro você e cada recordação sua. Pareço procurar a miséria
por todos os cantos. Mas os piores sintomas são aqueles que ninguém vê. Só eu,
só eu e você dentro da minha cabeça. Eu você e todos os nossos momentos,
trancados nessa fortaleza dentro da minha cabeça. Já não vivo minha vida, apenas
espero pela próxima dose. Não há dose. Não há dose segura de você.
Eu não posso respirar, quando me falta. Sem minha droga entro em delírio.
Não sei diferenciar o real da fantasia, sem você perto de mim. Mesmo quando é
tão quieto aqui, no silêncio eterno das noites abandonadas, mesmo longe de tudo
e perto do nada, mesmo diante do absoluto calar das palavras, você ainda está
aqui. Não é possível ficar longe, porque você está dentro de mim. A distância
impede meu sangue de correr. Quando é você que corre em minhas veias. Ah
lembro-me de como é ter você minha droga... correndo em minhas veias. Fazendo
de mim o ídolo e o infinito. Fora do mundo, fora de mim, fora de tudo e você
dentro de mim, meu sangue. Dentro de você. Você e eu, eu e você, misturados num
só. Busco em todos os cantos, em todos os santos, mas não encontro você. Não há
mais droga. Não há dose segura de você.
Vou ao seu encontro ao enxergá-la, mesmo quando a imagem é imaginação
minha. Vou ao encontro do seu eco dentro de mim. E ao abrir os olhos e
procurar-te não encontro nada. Meus pulmões se negam a funcionar sem a sua
inebriante certeza. Sem sua embriagante e tão constante permanência. Não posso
ver nada, meus olhos só podem ver a sua figura, seu vulto, seu contorno. Nada
além de você... Nada serve para preencher o vazio do seu sumir. Eu estou
viciado em você, no vício total e completo pelo homem que viro quando sou com
você. Pelo que sinto e sou quando tenho você minha droga. Meu coração está
paralisado, não bate, pois meu sangue depende de você. Meu sangue depende de
você minha droga presente em minhas veias, para fazer dele corrente. Não há pensamento
sem você, só um pensamento: você surgindo para me saciar dessa infindável sede
da minha droga. E interromper meus pensamentos, todos na abstinência de você. Talvez
uma só dose para interromper a abstinência? Não há dose nenhuma. Não há dose
segura de você.
Nos meus sonhos você tomou conta de mim. Você é meu sonho. Sonho apenas
você. Todos os meus sonhos envolvem você. Sinto como se eu não fosse mais eu. E
eu sei que deixo você ter todo o poder. Seu poder de guiar minhas ações. Sou
seduzido a agir somente pela próxima dose, num passo-a-passo na prancha da
morte. Agora realmente não me importo com seu poder. Fico feliz com o meu poder
ter uma dose de você. Vivo esperando o próximo gole. Sobrevivo apenas no meu
vício, e pelo meu vício somente. Não há dose suficiente. Não há dose segura de
você.