domingo, 10 de outubro de 2010

Um grande cálice repousa sereno. O ambiente ao seu redor está silencioso. A única luz emana da semicircunferência cujo interior é preenchido por um líquido. O som é liquefeito, não há mais nada ali. A penumbra permanece em tom azul.

Um homem se percebe nesse espaço. Não se move, apenas observa. Dois passos, vislumbra o cálice luminoso. Sente seu contorno, não é frio, não é quente. Olha o líquido, vê seu reflexo. Ao ver, repara que as linhas de sua existência são constituídas de palavras.

As palavras iniciam um percurso sem lógica. Não somente na superfície, permeiam todos os planos, viram, giram, sobem e descem. Pouco a pouco desmontam-se, letras continuam em plena liberdade.

O homem ergue a mão, repousa-a sobre a cena. Com um dedo, toca a superfície. Ao erguer sua mão novamente, percebe uma fileira que sai da superfície e liga-se ao dedo, estendendo-se no ar. Recoloca as letras no líquido. Dessa vez, mergulha a mão inteira. Uma luz intensa espalha-se ali. O homem sorri.

Decidido, envolve uma palavra em sua mão semi cerrada. Puxa, abre os dedos lentamente, solta, o vocábulo permanece no ar. Investiga a flutuante palavra por alguns segundos, então, pega duas letras, devolve à sua dança no cálice. Procura outras três, retira e as encaixa, no ar continuam.

O homem então letra a letra constrói suas palavras. Ligam-se umas as outras. Frases vão surgindo. Parágrafos. O homem sorri. Era, toda aquela sala: pensamento.

Daniel Victorino

3 comentários:

  1. Dani, o texto está maravilhoso, como sempre. Com orgulho, da irmãzinha querida.

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  2. mto fodaa dani!! Continua assim q o proximo premio Nobel de literatura eh seu. Abrss Feher

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  3. Nossa, muito bom! Achei super envolvente, me senti dentro da sala com o cálice ao ler, como se eu fosse o homem do texto. Imagina, se existisse uma sala de pensamentos ia ser muito divertido, haha. Parabéns :)

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